by Fernando António Nogueira Pessoa (1888 - 1935)
Quadras ao gosto popular
Language: Portuguese (Português)
Cantigas de portugueses São como barcos no mar -- Vão de uma alma para outra Com riscos de naufragar. A caixa que não tem tampa Fica sempre destapada Dá-me um sorriso dos teus Porque não quero mais nada. No baile em que dançam todos Alguém fica sem dançar. Melhor é não ir ao baile Do que estar lá sem estar. Vale a pena ser discreto? Não sei bem se vale a pena. O melhor é estar quieto E ter a cara serena. Tenho um relógio parado Por onde sempre me guio. O relógio é emprestado E tem as horas a fio. Aquela senhora velha Que fala com tão bom modo Parece ser uma abelha Que nos diz: "Não incomodo". Não digas mal de ninguém, Que é de ti que dizes mal. Quando dizes mal de alguém Tudo no mundo é igual. Quando vieste da festa, Vinhas cansada e contente. A minha pergunta é esta: Foi da festa ou foi da gente? Tenho uma pena que escreve Aquilo que eu sempre sinta. Se é mentira, escreve leve. Se é verdade, não tem tinta. Deixaste cair a liga Porque não estava apertada... Por muito que a gente diga A gente nunca diz nada. Não há verdade na vida Que se não diga a mentir. Há quem apresse a subida Para descer a sorrir. Santo Antônio de Lisboa Era um grande pregador Mas é por ser Santo Antônio Que as moças lhe têm amor. Tem um decote pequeno, Um ar modesto e tranqüilo; Mas vá-se lá descobrir Coisa pior do que aquilo! Aquela loura de preto Com uma flor branca no peito, É o retrato completo De como alguém é perfeito.
Text Authorship:
- by Fernando António Nogueira Pessoa (1888 - 1935) [author's text checked 1 time against a primary source]
Musical settings (art songs, Lieder, mélodies, (etc.), choral pieces, and other vocal works set to this text), listed by composer (not necessarily exhaustive):
- by Ernst Mahle (b. 1929), "Quadras ao gosto popular", 1981. [baritone and piano] [text not verified]
Researcher for this text: Emily Ezust [Administrator]
This text was added to the website: 2010-07-12
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