by Antônio Gonçalves Dias (1823 - 1864)
Filho meu, onde estás?
Language: Portuguese (Português)
- Filho meu, onde estás? - Ao vosso lado; Aqui vos trago provisões: tomai-as, As vossas forças restaurar perdidas, E a caminho, e já! - Tardaste muito! Não era nado o sol, quando partiste, E frouxo o seu calor já sinto agora! - Sim, demorei-me a divagar sem rumo, Perdi-me nestas matas intrincadas, Reaviei-me e tornei; mas urge o tempo; Convém partir, e já! - Que novos males Nos resta de sofrer? - que novas dores, No outro fado pior Tupã nos guarda? - As setas da aflição já se esgotaram, Nem para novo golpe espaço intacto Em nossos corpos resta. - Mas tu tremes - Talvez do afã da caça... - Oh filho caro Um quê misterioso aqui me fala, Aqui no coração; piedosa fraude Será por certo, que não mentes nunca! Não conheces temor, e agora temes? Vejo e sei: é Tupã que nos aflige, E contra o seu querer não valem brios. Partamos!... - E com mão trêmula, incerta Procura o filho, tateando as trevas Da sua noite lúgubre e medonha. Sentindo o acre odor das frescas tintas, Uma idéia fatal correu-lhe à mente... Do filho os membros gélidos apalpa, E a dolorosa maciez das plumas Conhece estremecendo: - foge, volta, encontra sob as mãos o duro crânio, Despido então do natural ornato!... Recua aflito e pávido, cobrindo Às mãos ambas os olhos fulminados, Como que teme ainda o triste velho De ver, não mais cruel, porém mais clara, Daquele exício grande a imagem viva Ante os olhos do corpo afigurada. Não era que a verdade conhecesse Inteira e tão cruel qual tinha sido; Mas que funesto azar correra o filho, Ele o via; ele o tinha ali presente; E era de repetir-se a cada instante. A dor passada, a previsão futura E o presente tão negro, ali os tinha; Ali no coração se concentrava, Era num ponto só, mas era a morte! - Tu prisioneiro, tu? - Vós o dissesses. - Dos índios? - Sim. - De que nação? - Timbiras - E a muçurana funeral rompeste, Dos falsos manitôs quebraste a maça... - Nada fiz... aqui estou. - Nada! - Emudecem; Curto instante depois prossegue o velho: - Tu és valente, bem o sei; confesso, Fizeste-o, certo, ou já não foras vivo! - Nada fiz; mas souberam da existência De um pobre velho, que em mim só vivia... - E depois?... -Eis-me aqui. -Fica essa taba? - Na direção do sol, quando transmonta. - Longe? - Não muito. - Tens razão: partamos. - E quereis ir?... - Na direção do ocaso.
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- by Antônio Gonçalves Dias (1823 - 1864), no title, appears in Juca Pirama, no. 6 [author's text checked 1 time against a primary source]
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