Contemplo o lago mudo Que uma brisa estremece. Não sei se penso em tudo Ou se tudo me esquece. O lago nada me diz, Não sinto a brisa mexê-lo Não sei se sou feliz Nem se desejo sê-lo. Trêmulos vincos risonhos Na água adormecida. Por que fiz eu dos sonhos A minha única vida?
Seis poemas de Fernando Pessoa : para canto e piano
Song Cycle by José Manuel Joly Braga Santos (1924 - 1988)
1. Contemplo o lago mudo  [sung text not yet checked]
Language: Portuguese (Português)
Text Authorship:
- by Fernando António Nogueira Pessoa (1888 - 1935)
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Researcher for this text: Emily Ezust [Administrator]2. Gato que brincas na rua  [sung text not yet checked]
Language: Portuguese (Português)
Gato que brincas na rua Como se fosse na cama, Invejo a sorte que é tua Porque nem sorte se chama. Bom servo das leis fatais Que regem pedras e gentes, Que tens instintos gerais E sentes só o que sentes. És feliz porque és assim, Todo o nada que és é teu. Eu vejo-me e estou sem mim, Conheço-me e não sou eu.
Text Authorship:
- by Fernando António Nogueira Pessoa (1888 - 1935), "Gato que brincas na rua"
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Researcher for this text: Emily Ezust [Administrator]3. O céu, azul de luz quieta  [sung text not yet checked]
Language: Portuguese (Português)
O céu, azul de luz quieta. As ondas brandas a quebrar, Na praia lúcida e completa - Pontos de dedos a brincar. No piano anónimo da praia Tocam nenhuma melodia De cujo ritmo por fim saia Todo o sentido deste dia. Que bom, se isto satisfizesse! Que certo, se eu pudesse crer Que esse mar e essas ondas e esse Céu têm vida e têm ser.
Text Authorship:
- by Fernando António Nogueira Pessoa (1888 - 1935), "O céu, azul de luz quieta"
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Available translations, adaptations or excerpts, and transliterations (if applicable):
- ENG English (Andrew Schneider) , "O sky, the blue of your quiet light", copyright © 2018, (re)printed on this website with kind permission
4. Paira à tona de água  [sung text not yet checked]
Language: Portuguese (Português)
Paira à tona de água Uma vibração, Há uma vaga mágoa No meu coração. Não é porque a brisa Ou o que quer que seja Faça esta indecisa Vibração que adeja, Nem é porque eu sinta Uma dor qualquer. Minha alma é indistinta Não sabe o que quer. É uma dor serena, Sofre porque vê. Tenho tanta pena! Soubesse eu de quê!...
Text Authorship:
- by Fernando António Nogueira Pessoa (1888 - 1935), "Paira à tona de água"
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Researcher for this text: Emily Ezust [Administrator]5. Ao longe, ao luar  [sung text not yet checked]
Language: Portuguese (Português)
Ao longe, ao luar, No rio urna vela Serena a passar, Que é que me revela? Não sei, mas meu ser Tornou-se-me estranho, E eu sonho sem ver Os sonhos que tenho. Que angústia me enlaça? Que amor não se explica É a vela que passa Na noite que fica.
Text Authorship:
- by Fernando António Nogueira Pessoa (1888 - 1935), "Ao longe, ao luar"
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Researcher for this text: Emily Ezust [Administrator]6. Em toda a noite o sono não veio  [sung text not yet checked]
Language: Portuguese (Português)
Em toda a noite o sono não veio. Agora Raia do fundo Do horizonte, encoberta e fria, a manhã. Que faço eu no mundo? Nada que a noite acalme ou levante a aurora, Coisa séria ou vã Com olhos tontos da febre vã da vigília Vejo com horror O novo dia trazer-me o mesmo dia do fim Do mundo e da dor — Um dia igual aos outros, da eterna família De serem assim. Nem o símbolo ao menos vale, a significação Da manhã que vem Saindo lenta da própria essência da noite que era, Para quem, Por tantas vezes ter sempre esperado em vão, Já nada espera.
Text Authorship:
- by Fernando António Nogueira Pessoa (1888 - 1935), "Em toda a noite o sono não veio. Agora"
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