A fome, um dia, arrastou-me Para as grades da prisão: Sou o bastardo sem nome, O deserdado sem pão! Meu ar é dúbio, suspeito: Vinte prisões conto já, Vinte facadas no peito, Na alma quantas não há! Ninguém me quer, sou da vasa; N as minhas carnes espúrias Marcaram, a ferro em brasa, Tatuagens rubras de injúrias! Quando eu canto, o povo em massa Chora ouvindo a minha voz; Novo Camões da desgraça, Canto a dor de todos nós! Nas lajes do corredor Ressoam passos... Quem vem? Ferrolhos, chaves, rumor... Encarceraram alguém! Ferros de El-rei! Que ironia! Soubesse El-rei da traição, E caridoso viria Dar-nos lágrimas e pão! Aqui, em torpe igualdade, Anicham-se os pais e os filhos; Cabeças fora da grade, Famintos e maltrapilhos! A sombra, espertando o instinto, Espessa de ardis, oprime; Abismam-se as almas ... Sinto Correr-me a larva do crime! Noites de febre e miasmas, De delírios e cruezas ... Perpassam brancos fantasmas, Brandões, fogueiras acesas! Aos areais da desgraça Lançou-me torva maré ... Vejo toda a minha raça Ardendo em autos-de-fé! Adeus, a noite vai alta! Por entre névoas, mui cedo, Vou de súcia com a malta, Na leva para o degredo! Que importa morrer de todo Nos ermos de água sem fim? Eu já morri de algum modo: Sou a lembrança de mim! Saudades, brumas, acenam ... Eu, no escuro, a murmurar: «- Os crimes dos que condenam Nem o inferno os quer julgar!» Çala a tua alta Epopeia, O povo de Pedro Sem! Maré cheia, maré cheia, Já se não salva ninguém!
Quatro Melodias
by Luis de Freitas Branco (1890 - 1955)
1. A Elegia das Grades  [sung text not yet checked]
Text Authorship:
- by Mário Beirão (1890 - 1965), "A Elegia das Grades"
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Confirmed with Antologia de Poemas Portugueses Modernos
Researcher for this page: Joost van der Linden [Guest Editor]
2. O Motivo da Planície
Morte da Luz. Na forja do Poente um lume em agonia ainda arde. Entra a subir da Terra abertamente a grande pastoral do fim da tarde. E sobe, e alastra-se. Ao luar clemente, as rãs e os sapos gemem com alarde. Morreu a Luz. Na forja do Poente o Lume agonizante já não arde. Desfaz-se a lua em aspersões de graça. E em notas sempre as mesmas, sempre irmãs, passa a Planície, interpretando a Vida. Passa o motivo da Planície, passa... Passa na voz dos sapos e das rãs o tema da Planície indefinida.
Text Authorship:
- by António Sardinha (1887 - 1925)
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Researcher for this page: Joost van der Linden [Guest Editor]3. Minuête
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4. O culto divinal se celebrava  [sung text not yet checked]
O culto divinal se celebrava No templo donde toda criatura Louva o Feitor divino, que a feitura Com seu sagrado sangue restaurava. Amor alli, que o tempo me aguardava Onde a vontade tinha mais segura, Com huma rara e angelica figura A vista da razão me salteava. Eu crendo que o lugar me defendia De seu livre costume, não sabendo Que nenhum confiado lhe fugia; Deixei-me captivar: mas hoje vendo, Senhora, que por vosso me queria, Do tempo que fui livre me arrependo.
Text Authorship:
- by Luís de Camões (c1524 - 1580), no title
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Confirmed with Obras completas de Luis de Camões, Lisboa, Na Livraria Europea, 1843, page 39. In Sonetos, no. 77.
Research team for this page: Emily Ezust [Administrator] , Joost van der Linden [Guest Editor]