by Vicente Augusto de Carvalho (1866 - 1924)
Sonho póstumo
Language: Portuguese (Português)
Poupem-me, quando morto, à sepultura: odeio A cova, escura e fria. Ah! deixem-me acabar alegremente, em meio Da luz, em pleno dia. O meu último sono eu quero assim dormi-lo: -- Num largo descampado, Tendo em cima o esplendor do vasto céu tranquilo E a primavera ao lado. Bailem sobre o meu corpo asas trêmulas, asas Palpitando de leve, De insetos de ouro e azul, ou rubros como brasas, Ou claros como neve. De entre moitas em flor, oscilantes na aragem, Úmidas e cheirosas, Espalhando em redor frescuras de folhagem, E perfumes de rosas, Subam, jovializando o ar, canções suaves -- A música sonora Em que parece rir a alegria das aves, Encantadas da aurora. E cada flor que um galho acaso dependura À beira dos caminhos Entreabra o seio ao sol, às brisas, à doçura De todos os carinhos. Passe em redor de mim um frêmito de gozo E um calor de desejo, E soe o farfalhar das árvores, moroso Como o rumor de um beijo. Palpite a natureza inteira, bela e amante, Volutuosa e festiva. E tudo vibre e esplenda, e tudo fulja e cante, E tudo sonhe e viva. A sepultura é noite onde rasteja o verme... Ó luz que eu tanto adoro, Amortalha-me tu! E possa eu desfazer-me No ar claro e sonoro!
Text Authorship:
- by Vicente Augusto de Carvalho (1866 - 1924), "Sonho póstumo" [author's text checked 1 time against a primary source]
Musical settings (art songs, Lieder, mélodies, (etc.), choral pieces, and other vocal works set to this text), listed by composer (not necessarily exhaustive):
- by Francisco Mignone (1897 - 1986), "Sonho póstumo", 1917, first performed 1919 [ voice and piano ], São Paulo: s.n. [sung text not yet checked]
- by José Carlos do Amaral Vieira Filho (b. 1952), "Sonho póstumo", op. 42 (1968) [ contralto and piano ] [sung text not yet checked]
Researcher for this text: Emily Ezust [Administrator]
This text was added to the website: 2010-07-17
Line count: 36
Word count: 215