Seis Canções Alemãs

Eu alimentava a esperança no fundo do peito,
Que se revelava a ela confiantemente.
Meus olhos brilhavam de alegria de vida
Quando seus encantos me envolviam,
Quando ouvia sua voz sedutora,
Nas tempestades do tempo seu eco se esvaiu,
Aquiete-se, meu coração, não pense mais nisto,
Isto é a verdade, aquilo foi loucura.

A Terra estava diante de mim em sonhos primaveris,
Por onde passavam luz e calor,
E ébrio de júbilo eu caminhava pelo espaço,
Do peito nascia a flor em botão,
A primavera do amor em mim despertou.
Agora eu congelo, na alma só há noite,
Aquiete-se, meu coração, e não pense mais nisto,
Isto é a verdade, aquilo foi loucura.

Eu construí com flores e brilho de sol
Uma ponte através da vida
Pela qual eu perambulava com coroa de louros
A mim dedicada pelos ideais mais nobres,
A gratidão humana me foi o prêmio maior.
Ri-se violentamente a multidão, em desprezo,
Aquiete-se meu coração, não pense mais nisto,
Isto é a verdade, aquilo foi loucura.

Um passarinho pousava num galho de sabugueiro
Numa noite de maio quieta e bela
Embaixo, uma moça repousava na grama alta,
Numa noite de maio quieta e bela.
Cantava a moça, o passarinho silenciava,
Cantava o pássaro, a moça escutava.
E assim soava longe
Este canto a dois
Pelo vale enluarado.

O que cantava o pássaro por entre os galhos
Pela noite de maio quieta e bela?
E o que cantava então a moça
Pela noite de maio quieta e bela?
Do sol primaveril o pássaro,
Dos júbilos de amor a moça.
Como este canto
Invadia o coração,
Isto eu jamais esquecerei por toda a vida!

Eu olhei meu coração, e olhei o mundo,
Até que dos olhos a lágrima ardente caiu.
Apesar de a distância brilhar em luz dourada
O Norte me segura, eu não a alcanço.
Oh, os limites tão estreitos, e o mundo tão vasto,
E tão fugidio o tempo!

Eu sei de um país onde de verdes ensolarados
Ao redor das ruínas de antigos templos, as uvas nascem
Onde ondas púrpuras banham suas praias,
E de cantores e poetas vindouros os louros sonham.
Ao longe esta terra acena, atraindo meus sentidos,
Mas eu não posso ir!

Oh, tivesse eu asas pelos azuis do céu,
Como eu iria banhar-me em perfumes ensolarados!
Mas em vão! E as horas se esvaem -- 
Confie na juventude, enterre a canção! -- 
Oh, os limites tão estreitos, e o mundo tão vasto,
E tão fugidio o tempo!

Tudo em silêncio, em doce paz,
Ó, minha doce criança, durma você também.
Lá fora sopra o vento,
Durma, durma, durma minha criança.

Feche seus olhinhos,
Deixe que sejam como dois botões em flor.
Amanhã quando brilhar o sol,
Eles se abrirão como as flores.

E as florzinhas eu verei,
E os olhinhos beijarei,
E o coração da mãe esquecerá
Que lá fora é primavera.

Existem dores secretas
Das quais a boca não fala;
Carregadas nas profundezas do coração,
Elas não são conhecidas do mundo.
Existe um desejo secreto,
Que teme constantemente a luz,
Existem lágrimas escondidas
Que não são vistas pelos outros.

Existe um tácito abandono
Em um mundo interior,
Onde vales tranqüilos saúdam,
Iluminados pela luz das estrelas.
Onde sobre barreiras em ruínas
A alma constrói paraísos,
Revelando aos lábios jubilosa
Os seus pensamentos

Existe um quieto desvanecer
Em dor muda e deserta,
E ninguém deverá ver
Este coração pesado.
Ele não revela o que lhe falta,
E se em mágoas quebrantar,
Sangrando e em agonias,
Isto não é visto pelos outros.

Existe um sono suave,
Onde reina uma doce paz;
Onde uma tranqüilidade silenciosa 
Cura a alma cansada.
Contudo, existe uma esperança bela,
Que sobrevoa os mundos,
Lá onde um coração aberto
Se banha, pleno de amor.

Do que você tem medo,
E por que tão pensativo?
Oh, há muito tempo
O amor está desperto.

Você está ouvindo os sons
Por todos os lugares?
Os pássaros cantam
Em doces melodias.

Da rigidez florescem
Macias as folhas das árvores,
A vida flui
Por troncos e galhos.

Uma gotinha surge
Das reentrâncias da floresta,
O riacho salta
Com força abundante.

O céu se curva
Diante da lucidez das ondas;
O azul se mostra
Maravilhosamente.

Um florir animado
Em direção a formas e sons;
Eterna união 
Em eterno desejo!

Do que você tem medo,
E por que tão pensativo?
Oh, há muito tempo
O amor está desperto.